O lipedema é uma condição crônica, progressiva e predominantemente feminina, caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura subcutânea, especialmente nas extremidades inferiores. Essa condição afeta cerca de 11% das mulheres, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular de São Paulo (SBACV-SP). Contudo, sua prevalência pode ser subestimada devido ao diagnóstico tardio e à confusão com outros quadros clínicos, como obesidade, linfedema e celulite. Apesar de não ter cura, o manejo adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, sendo os tratamentos estéticos avançados uma alternativa promissora.

De acordo com o cirurgião vascular e membro da diretoria da SBACV-SP, Prof. Dr. Alexandre Campos Moraes Amato, o lipedema é frequentemente confundido com varizes ou retenção de líquidos. “Estima-se que varizes ocorram em 45% a 50% das mulheres e o lipedema em 11%. Portanto, logicamente, a coexistência existe. Das pacientes com lipedema, 53% têm teleangiectasias e 39% varizes”, explica o especialista. Por conta da alta incidência e da pouca informação sobre a doença, junho foi instituído como o mês de conscientização do lipedema.

Este artigo explora abordagens terapêuticas na estética avançada para o manejo do lipedema, destacando intervenções que visam melhorar aspectos funcionais, estéticos e psicológicos da condição.

O que é Lipedema?

O lipedema é uma doença vascular crônica, de origem hormonal, caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura em regiões como pernas, quadris e, em alguns casos, braços. O quadro não afeta os pés, o que o diferencia de outras patologias. É comum que a paciente apresente dor nas regiões acometidas, hematomas frequentes, sensação de peso nos membros e fragilidade capilar. Apesar de documentado, o lipedema segue amplamente subdiagnosticado e frequentemente confundido com obesidade ou linfedema.

Fatores hormonais desempenham um papel significativo em seu desenvolvimento, sendo mais prevalente em momentos como puberdade, gravidez e menopausa. Além disso, a doença possui um forte componente hereditário e sua evolução pode ser influenciada por hábitos alimentares inadequados.

A abordagem terapêutica é essencialmente interdisciplinar, combinando estratégias clínicas, estéticas e psicológicas para otimizar os resultados e minimizar as complicações.

Qual a diferença entre Lipedema e Linfedema?

O lipedema e o linfedema são duas condições distintas que afetam as extremidades inferiores, mas com causas, características e tratamentos diferentes. Aqui estão as principais diferenças:

Causa e Mecanismo

• Lipedema: É uma doença vascular crônica e genética que causa o acúmulo desproporcional de gordura nas pernas (e, em alguns casos, nos braços). A gordura é distribuída de forma irregular, principalmente abaixo da cintura, e os pés geralmente não são afetados. O lipedema é mais comum em mulheres e tem uma ligação com os hormônios, frequentemente se manifestando em momentos de mudanças hormonais, como na puberdade, gravidez e menopausa.
• Linfedema: O linfedema é um acúmulo de fluido linfático nos tecidos, causado por um dano ou mal funcionamento do sistema linfático. Isso leva ao inchaço das extremidades (geralmente uma perna ou braço), com a retenção de fluido. O linfedema pode ser primário (quando ocorre por falhas congênitas no sistema linfático) ou secundário (resultante de lesões, cirurgias, infecções ou câncer). Ao contrário do lipedema, o linfedema afeta toda a perna, incluindo o pé.

Áreas Afetadas

• Lipedema: Afeta principalmente as coxas, quadris, nádegas e parte inferior das pernas, mas nunca o pé. A gordura se acumula de maneira assimétrica, gerando uma aparência desproporcional do corpo.
• Linfedema: O inchaço é tipicamente unilateral (em um único membro) e afeta todo o membro, incluindo o pé. O linfedema pode também envolver outras áreas do corpo, como o tronco, em casos mais avançados.

Sintomas

• Lipedema: Os sintomas incluem dor e desconforto nas áreas afetadas, hematomas frequentes, cansaço nas pernas, sensação de peso, e aumento de volume, mas sem a presença de edema ou inchaço excessivo. A doença também pode causar alterações psicológicas significativas, devido ao impacto estético e emocional.
• Linfedema: O principal sintoma é o inchaço progressivo, que piora ao longo do dia e tende a se aliviar durante o repouso. No início, o inchaço pode ser leve, mas em estágios mais avançados, a pele pode engrossar e tornar-se mais suscetível a infecções. O linfedema pode ser doloroso, com sensação de peso e dificuldade de movimento.

Características da Gordura

• Lipedema: A gordura no lipedema é localizada e visivelmente irregular. A gordura se distribui principalmente na parte inferior do corpo e é muitas vezes mais espessa do que a gordura normal.
• Linfedema: Não há acúmulo de gordura no linfedema, mas sim acúmulo de fluido. O inchaço causado pelo linfedema pode gerar uma sensação de rigidez na pele, que pode se tornar mais fibrosa com o tempo.

Progressão da Doença

• Lipedema: tende a progredir lentamente ao longo do tempo, afetando as extremidades de maneira assimétrica. Não é uma condição fatal, mas pode levar a complicações, como dores nas articulações e dificuldades de mobilidade, especialmente nos estágios mais avançados.
• Linfedema: O linfedema pode piorar rapidamente se não tratado, levando ao aumento do volume das extremidades e comprometendo a função do membro afetado. Sem tratamento adequado, o linfedema pode causar infecções recorrentes e fibrose no tecido.

Como Diagnosticar Lipedema?

O diagnóstico do lipedema é clínico e envolve uma análise cuidadosa dos sintomas e histórico médico da paciente. A dificuldade em diagnosticar o lipedema adequadamente reside na falta de conhecimento sobre a doença e na sua semelhança com outras condições, como a obesidade e o linfedema. Os principais sinais incluem:

• Distribuição simétrica de gordura nas pernas e/ou braços.
• Dor e desconforto nas áreas afetadas.
• Hematomas frequentes e sensibilidade ao toque.
• Edema e sensação de peso nas pernas.

Em casos avançados, o lipedema pode levar a complicações como dificuldade de mobilidade, atrofia muscular e problemas articulares. Exames como ultrassom vascular podem ser úteis para avaliar a extensão da gordura subcutânea e a saúde dos vasos sanguíneos.

Como a Estética Avançada pode ajudar no tratamento para Lipedema?

Os tratamentos estéticos para o lipedema têm como objetivo aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida dos pacientes e, em alguns casos, minimizar os efeitos visíveis da condição. Como o lipedema envolve o acúmulo desproporcional de gordura subcutânea e apresenta características inflamatórias, a abordagem estética deve ser multidisciplinar, com foco na redução de volume, melhoria da circulação e promoção do bem-estar físico e psicológico.

Confira abaixo os tratamentos estéticos mais indicados:

1. Drenagem Linfática Manual

A drenagem linfática manual estimula o sistema linfático a eliminar o excesso de líquidos e toxinas acumulados no corpo. Embora o lipedema não seja causado diretamente por problemas linfáticos, a técnica pode reduzir o inchaço, aliviar o desconforto e melhorar a circulação nas áreas afetadas. E é indicada para complementar outros tratamentos, como o uso de meias de compressão ou lipoaspiração.

2. Criolipólise

A criolipólise utiliza o resfriamento controlado para destruir células de gordura localizadas. No contexto do lipedema, o objetivo é reduzir o volume de gordura nas coxas e pernas. Sendo assim, espera-se resultados moderados, sendo mais eficaz em estágios iniciais da condição.

3. Radiofrequência

A radiofrequência aquece as camadas mais profundas da pele e do tecido subcutâneo, promovendo estímulo à produção de colágeno, melhora da firmeza e textura da pele. E é destinados a pacientes com flacidez ou desidratação associadas ao lipedema.

4. Ultrassom Terapêutico

O ultrassom terapêutico promove a queima de gordura localizada e melhora a circulação. Entre seus benefícios estão a redução de inchaço e textura da pele mais uniforme. E pode potencializa resultados quando associado a drenagem linfática ou massagens terapêuticas.

5. Mesoterapia com Enzimas

A aplicação de enzimas lipolíticas por injeção (mesoterapia) ajuda na redução da gordura localizada. Age na quebra de células de gordura e aceleração do metabolismo local. Indicado em estágios iniciais ou intermediários do lipedema, com avaliação individualizada.

6. Endermologia

Técnica que combina massagem mecânica e vácuo para melhorar a circulação sanguínea e linfática. Ajuda na redução do inchaço, melhora da celulite e tonificação da pele. Indicado como parte de um plano integrado de tratamento.

7. Exercícios Físicos e Reabilitação

A prática de atividades físicas é essencial para o manejo do lipedema, pois fortalece os músculos, melhora a circulação e ajuda no controle do peso. Exercícios aeróbicos e musculação são especialmente indicados.

8. Microagulhamento Corporal com Ativos

A técnica de microlesões na pele associadas a ativos regeneradores reduz inflamações, melhora a textura da pele e alivia desconfortos.

9. Fios PDO Corporais

A inserção de fios de polidioxanona (PDO) melhoria da flacidez cutânea, produzindo estímulo à produção de colágeno e sustentação dos tecidos.

Os tratamentos estéticos devem ser sempre individualizados, considerando o estágio do lipedema, os sintomas e as condições gerais do paciente.

Quais As Abordagens Cirúrgicas para Lipedema?

Nos casos mais avançados de lipedema, onde as intervenções não invasivas não são suficientes, a lipoaspiração específica para lipedema é considerada a principal opção cirúrgica. Este procedimento é realizado para remover a gordura acumulada nas regiões afetadas e aliviar a pressão sobre os tecidos adjacentes.

• Lipoaspiração por Ultra-som Assistido (UAL): Técnica que utiliza ultrassom para emulsificar a gordura antes da remoção, proporcionando uma recuperação mais rápida e menos traumática.
• Lipoaspiração por Lasers (Laser Assisted Liposuction – LAL): O uso de laser para ajudar a liquefazer a gordura pode reduzir a necessidade de incisões maiores e pode ter efeitos benéficos sobre a pele, promovendo sua retração.
• Lipoaspiração Manual ou Assistida por Vibração: Uma opção para pacientes com gordura mais densa ou em locais de difícil acesso.

A lipoaspiração pode ajudar a reduzir o volume das pernas e melhorar a simetria corporal, aliviando o desconforto e o impacto psicológico. Contudo, é importante lembrar que o lipedema é uma doença crônica e a lipoaspiração não impede a progressão da doença, exigindo acompanhamento contínuo.

Quais as Abordagem Psicossocial no Tratamento do Lipedema?

O impacto psicológico do lipedema é significativo, com muitas pacientes relatando baixa autoestima, ansiedade e depressão devido ao estigma social e ao desconforto físico causados pela aparência das pernas. Portanto, o tratamento psicológico é uma parte essencial do manejo da doença. Psicólogos e nutricionistas desempenham um papel importante no acompanhamento da saúde mental, ajudando as pacientes a lidarem com o impacto emocional da doença e promovendo uma melhor aceitação corporal.

Considerações Finais

O tratamento do lipedema na estética avançada requer uma abordagem multidisciplinar. Embora o lipedema não tenha cura, as intervenções estéticas podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença. Por outro lado, as técnicas indicadas, quando combinadas com terapias e acompanhamento psicológico, têm se mostrado eficazes no tratamento do lipedema, promovendo benefícios tanto físicos quanto emocionais para as pacientes.